Um dos precursores no uso amplo de retalhos perfurantes em cirurgia plástica, Dr. Phillip Blondeel concedeu entrevista ao presidente da Regional São Paulo, Dr. Felipe Coutinho, sobre os impactos profissionais e pessoais da pandemia do novo Coronavírus. No encontro realizado por videoconferência, o especialista fala sobre as medidas adotadas pela Bélgica para conter o avanço do vírus e garantir atendimento a todos os pacientes graves.
Assim como na grande maioria dos países, os hospitais belgas se reconfiguraram para garantir a estrutura necessária de UTIs aos pacientes graves e, ao mesmo tempo, manter o atendimento às demais urgências. No Hospital Universitário de Gante, onde o Dr. Blondeel atua como chairman do Departamento de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, o centro cirúrgico chegou a ficar com apenas 50% de ocupação no início da pandemia.
Contudo, a situação mudou rapidamente. Embora a Bélgica tenha apenas 11 milhões de habitantes, cerca da metade da Grande São Paulo, essa população vive em áreas urbanas com grande adensamento populacional. Isso facilita a transmissão do vírus. “Durante duas semanas, tivemos de ser seletivos até com as cirurgias de urgência. Elas eram realizadas apenas quando havia risco de vida ao paciente”, recorda.
Apesar disso, o hospital não enfrentou superlotação. Com exceção de máscaras e alguns medicamentos, todos os equipamentos e materiais necessários estavam disponíveis.
“Acredito que não tivemos nenhuma morte que pudesse ser evitada, por falta de suporte hospitalar adequado”
O cirurgião plástico também observa que houve uma mudança no perfil de pacientes. “Praticamente desapareceram os casos de cetoacidose diabética, arritmias, infatos e AVC. Também reduziram muito os traumas, mas nesse caso a razão é óbvia (isolamento social)”, recorda.
No âmbito pessoal, o cirurgião plástico revela que o seu sogro contraiu o vírus e chegou a ficar entubado por cinco semanas, antes de se recuperar. Isso mudou a perspectiva do cirurgião plástico sobre a doença.
“É um vírus muito agressivo, diferente de tudo o que conhecemos. Não é semelhante a uma gripe, como muitos pensavam antes da pandemia”
Hoje, com o país retomando as atividades, estão sendo revistas as medidas e avaliados os impactos econômicos, que geraram desemprego e falência de empresas no País. “Talvez isso influencie mudanças para a segunda onda da doença”, conta.
A entrevista faz parte da série “COVID-19: O Cirurgião Plástico na Linha de Frente”, em que especialistas falam sobre o impacto da pandemia.