O câncer de mama continua sendo a neoplasia maligna mais comum em mulheres, com o tratamento cirúrgico atuando com a base do atendimento multidisciplinar. O enxerto de gordura é um complemento útil após a reconstrução mamária, sendo comumente utilizado para corrigir irregularidades de contorno, defeitos de volume e assimetria residual. Entretanto, o impacto do enxerto de gordura na segurança e vigilância oncológica permanece questionável, principalmente após a cirurgia conservadora da mama.
Os autores de um artigo publicado no periódico Plastic and Reconstructive Surgery, em agosto de 2020, realizaram uma revisão retrospectiva de uma base de dados prospectiva, incluindo pacientes submetidas ao enxerto de gordura após cirurgia conservadora da mama/radioterapia. Um grupo controle de pacientes tratadas com cirurgia conservadora da mama/radioterapia, mas sem enxerto de gordura, foi equiparado para estágio do câncer, idade, índice de massa corpórea e seguimento.
Foram excluídas da pesquisa pacientes com os seguintes perfis:
- Histórico de mutações no BRCA;
- Não foram submetidas à imagem para vigilância oncológica;
- Que receberam uma variante de irradiação em um protocolo de estudo;
- Que recusaram quimioterapia, radioterapia ou terapia hormonal recomendadas;
- Que foram submetidas a outros tipos de reconstrução após a mastectomia, como retalhos pediculados e implantes.
Mastopexia, redução mamária ou reorganização tecidual local não foram critérios de exclusão.
Setenta e duas pacientes foram identificadas por coorte, com ausência de diferenças na idade (50 anos versus 51 anos; p = 0.87), índice de massa corpórea (28,2 kg/m2 versus 27,2 kg/m2; p = 0,38) ou tempo de seguimento (61,9 meses versus 66,8 meses; p = 0,144) entre as pacientes dos grupos controle e enxerto de gordura, respectivamente.
No geral, quatro pacientes em cada coorte apresentaram recorrência (5,6%; p = 1,00), com estimativas de incidência cumulativa semelhantes (p = 0,534). Não houve diferença significativa para presença de massa palpável (9,7% versus 19,4%; p = 0,1), necrose gordurosa (34,7% versus 33,3%; p = 0,86), calcificações (37,5% versus 34,7%; p = 0,73) ou indicação de biópsia mamária (15,3% versus 22,2%; p = 0,23) entre as pacientes dos grupos controle e enxerto de gordura, respectivamente, respectivamente.
Como conclusão, os autores não encontraram diferença na taxa de recorrência após a cirurgia conservadora da mama com ou sem associação com enxerto de gordura. Além disso, não houve diferenças nas taxas de necrose gordurosa, massa palpável e achados radiográficos anormais. Este estudo controlado representa o acompanhamento mais longo até o momento de enxerto de gordura associado com cirurgia conservadora da mama, demonstrando a segurança oncológica e nenhuma interferência na vigilância de acompanhamento.
Veja o estudo completo aqui:
https://journals.lww.com/plasreconsurg/Fulltext/2020/08000/Oncologic_Safety_and_Surveillance_of_Autologous.1.aspx